A lidocaína é um dos anestésicos locais mais utilizados na odontologia, devido à sua eficácia, segurança e rápida ação. Ela desempenha papel fundamental em procedimentos clínicos, proporcionando conforto ao paciente e facilitando o trabalho do profissional. Neste artigo, abordaremos as características, indicações, mecanismos de ação, dosagens, efeitos colaterais e cuidados relacionados ao uso da lidocaína em odontologia.
O que é a lidocaína?
A lidocaína é um anestésico local do tipo aminoamida, amplamente empregada para bloquear temporariamente a condução nervosa. Isso promove a analgesia em áreas específicas, evitando a sensação de dor durante procedimentos odontológicos, como restaurações, cirurgias, extrações e tratamentos endodônticos.
Além do uso em anestesia local, a lidocaína também é utilizada em outras áreas médicas, como em cardiologia para tratamento de arritmias.
Mecanismo de ação da lidocaína
A lidocaína age bloqueando os canais de sódio dependentes de voltagem na membrana dos neurônios. Esses canais são responsáveis pela propagação do impulso nervoso, que envia informações de dor ao cérebro. Ao impedir que o sódio entre na célula nervosa, a transmissão do impulso é interrompida, causando a sensação de anestesia na área aplicada.
O efeito anestésico da lidocaína inicia-se geralmente entre 2 a 5 minutos após a aplicação e apresenta duração média que varia entre 30 e 120 minutos, dependendo da concentração e do volume administrado, bem como da presença de vasoconstritores como a epinefrina.
Formas e concentrações de lidocaína em odontologia
Nas práticas odontológicas, a lidocaína é comumente encontrada na forma de solução injetável em diferentes concentrações, sendo as mais utilizadas 2% e 4%. As soluções geralmente contêm epinefrina (adrenalina) como vasoconstritor, em concentrações como 1:100.000 ou 1:80.000, para prolongar o efeito anestésico e reduzir o sangramento no local do procedimento.
Exemplos comuns:
- Lidocaína 2% com epinefrina 1:100.000
- Lidocaína 2% com epinefrina 1:80.000
- Lidocaína 2% sem vasoconstritor (para pacientes com contraindicações ao uso de adrenalina)
Indicações da lidocaína na odontologia
A lidocaína é indicada para praticamente todos os procedimentos que demandam controle da dor, entre eles:
- Restaurações dentárias
- Tratamento endodôntico (canal)
- Extrações dentárias
- Cirurgias de tecidos moles
- Procedimentos periodontais
- Ajustes oclusais e outros procedimentos invasivos
Devido à sua rápida ação e bom perfil de segurança, é uma das primeiras escolhas para anestesia local odontológica.
Vantagens da lidocaína
A lidocaína apresenta diversas vantagens que a tornam o anestésico local preferido em odontologia, entre elas:
- Rápida ação: início do efeito geralmente em até 5 minutos.
- Duração adequada: suficiente para a maioria dos procedimentos odontológicos comuns.
- Boa margem de segurança: baixa toxicidade quando administrada nas doses recomendadas.
- Compatibilidade com vasoconstritores: permite controle do sangramento e prolongamento do efeito anestésico.
- Versatilidade: pode ser utilizada em múltiplas técnicas anestésicas (infiltração, bloqueio, intraligamentar, entre outras).
Administração e dosagem
A administração da lidocaína deve ser feita por profissionais capacitados, com atenção à dose máxima recomendada para evitar toxicidade. Geralmente, a dose máxima recomendada de lidocaína com epinefrina é de 7 mg/kg de peso corporal, com um limite superior absoluto em torno de 500 mg por sessão para adultos saudáveis.
Por exemplo, para um adulto com 70 kg, a dose máxima seria aproximadamente 490 mg. Considerando que uma ampolas padrão contém 36 mg de lidocaína (2% = 20 mg/mL x 1.8 mL), o profissional pode calcular o número seguro de ampolas para o procedimento.
Já a lidocaína sem vasoconstritor tem dose máxima menor, em torno de 4.5 mg/kg.
Contraindicações e precauções
Apesar de segura, a lidocaína apresenta algumas contraindicações e requer cuidados especiais em determinadas situações, tais como:
- Pacientes com alergia conhecida à lidocaína ou outros anestésicos do grupo das amidas.
- Doenças graves do fígado: a metabolização da lidocaína ocorre no fígado, portanto, pacientes com disfunções hepáticas podem ter maior risco de toxicidade.
- Gravidez: a lidocaína é considerada relativamente segura na gravidez, porém deve-se usar com cautela e preferencialmente sem vasoconstritores, devido ao risco potencial para o feto.
- Doenças cardiovasculares: pacientes com problemas cardíacos requerem avaliação rigorosa especialmente pelo uso do vasoconstritor epinefrina.
- Uso concomitante de antiarrítmicos ou outros medicamentos: pode haver interações medicamentosas que alteram o efeito ou a toxicidade da lidocaína.
Efeitos colaterais e toxicidade
Os efeitos colaterais da lidocaína são geralmente relacionados à dose excessiva ou administração inadvertida dentro da corrente sanguínea. Entre os sintomas de toxicidade, destacam-se:
- Tontura
- Visão turva
- Zumbido
- Formigamento ao redor da boca
- Confusão mental
- Convulsões
- Depressão respiratória e parada cardíaca (em casos extremos)
Para minimizar riscos, é imprescindível respeitar as doses máximas, aspirar durante a aplicação para evitar administração intravenosa e monitorar o paciente.
Lidocaína e vasoconstritores
O uso combinado da lidocaína com vasoconstritores, especialmente a epinefrina, é comum na odontologia para melhorar o controle do sangramento e prolongar o tempo de anestesia. A vasoconstrição atua reduzindo o fluxo sanguíneo no local da aplicação, aumentando a duração do anestésico e diminuindo a absorção sistêmica da lidocaína.
No entanto, é importante considerar as contraindicações para o uso da epinefrina, principalmente em pacientes com hipertensão grave, doenças cardíacas graves, ou uso de certos antidepressivos e betabloqueadores que podem acarretar efeitos adversos.
Alternativas à lidocaína
Embora a lidocaína seja o anestésico local mais popular na odontologia, existem outras substâncias que também são utilizadas, com diferentes perfis de duração e potência, tais como:
- Articaína
- Mepivacaína
- Prilocaína
- Bupivacaína
A escolha do anestésico depende do procedimento, da duração desejada da anestesia, do perfil do paciente e da experiência do profissional.
Considerações finais
A lidocaína é um anestésico local indispensável na odontologia moderna. Sua eficácia, rapidez e segurança permitem a realização de tratamentos odontológicos com conforto para o paciente e com excelente controle da dor. Contudo, o uso correto e responsável é fundamental para evitar complicações e garantir o sucesso do procedimento.
Profissionais odontológicos devem estar sempre atualizados sobre as indicações, dosagens apropriadas, contraindicações e possíveis efeitos adversos do anestésico, além de avaliar cuidadosamente o histórico e condições clínicas de cada paciente antes da administração da lidocaína.



