A articaína é um anestésico local amplamente utilizado na odontologia devido à sua eficácia, rapidez de ação e perfil de segurança. Desde sua introdução no mercado, tornou-se uma das escolhas preferidas para procedimentos odontológicos que requerem anestesia local, contribuindo para o conforto do paciente e o sucesso clínico das intervenções.
O que é a articaína?
A articaína é um anestésico local da classe das amidas, caracterizada pela presença de um grupo tiol na sua estrutura química. Essa particularidade confere à articaína propriedades farmacológicas únicas, diferenciando-a de outros anestésicos locais, como a lidocaína.
Quimicamente, a articaína é 4-metil-3-(2-mercapto-ethyl-amino)-2-tiofenecarboxil-ácido metil-ester, o que significa que ela possui uma estrutura com um anel tiol, que facilita a sua lipossolubilidade e, consequentemente, sua penetração nos tecidos.
Mecanismo de ação
Como todos os anestésicos locais, a articaína atua bloqueando os canais de sódio nas membranas dos neurônios. Essa ação impede a propagação do impulso nervoso, causando perda temporária da sensibilidade na área onde é aplicada.
Devido à sua alta lipossolubilidade, a articaína penetra rapidamente na membrana celular, proporcionando um início de ação rápido e um bloqueio eficaz dos nervos periféricos.
Indicações na odontologia
A articaína é utilizada em uma ampla gama de procedimentos odontológicos, incluindo:
- Extrações dentárias
- Tratamento endodôntico
- Procedimentos cirúrgicos menores
- Profilaxia e tratamentos restauradores
Ela é especialmente indicada para bloqueios mandibulares e infiltrações devido à sua capacidade de difundir facilmente pelos tecidos ósseos, o que não acontece com muitos outros anestésicos locais.
Vantagens da articaína
A articaína oferece várias vantagens em relação a outros anestésicos locais, entre as quais destacam-se:
- Início rápido: sua ação começa geralmente entre 1 a 3 minutos após a aplicação.
- Duração adequada: proporciona anestesia eficaz por períodos que vão de 30 a 60 minutos, o que é suficiente para a maioria dos procedimentos odontológicos.
- Alta difusão: devido à sua lipossolubilidade, consegue penetrar mais facilmente nos tecidos ósseos e mucosos, facilitando o bloqueio eficaz.
- Metabolização rápida: diferentemente de outros anestésicos amídicos, a articaína é parcialmente metabolizada no plasma por esterases, reduzindo a toxicidade sistêmica.
- Menor dose necessária: devido à sua potência, doses menores são necessárias para obter anestesia eficaz.
Farmacocinética
A articaína possui características farmacocinéticas que a tornam particularmente eficaz e segura:
- Absorção: após aplicação local, é rapidamente absorvida pela circulação sanguínea.
- Distribuição: possui uma alta penetração nos tecidos, favorecida pela sua lipossolubilidade.
- Metabolismo: diferentemente de outros anestésicos amídicos, a articaína é metabolizada principalmente no plasma por enzimas esterase devido ao seu grupo éster, além do metabolismo hepático, o que reduz a carga sobre o fígado e diminui o risco de toxicidade sistêmica.
- Excreção: suas substâncias inativas são eliminadas principalmente pelos rins.
Contraindicações e cuidados
Apesar de ser considerada segura, a articaína possui algumas contraindicações e precauções:
- Hipersensibilidade: pacientes que apresentam alergia conhecida à articaína ou a outros anestésicos da classe amida devem evitar seu uso.
- Doenças hepáticas graves: apesar do metabolismo parcial no plasma, o metabolismo hepático ainda ocorre e pode ser afetado.
- Doença renal grave: pacientes com insuficiência renal devem ser monitorados devido à excreção dos metabólitos.
- Gravidez e lactação: o uso deve ser avaliado criteriosamente, visando o benefício para a mãe e o risco potencial para o feto ou recém-nascido.
- Uso em crianças: geralmente é segura, porém as doses devem ser ajustadas ao peso.
Além disso, deve-se ter cuidado com a dose máxima recomendada para evitar toxicidade sistêmica. A dose máxima geralmente aceita é de 7 mg/kg, com um limite total aproximado de 500 mg em adultos saudáveis.
Efeitos colaterais e complicações
Os efeitos colaterais mais comuns associados à articaína são semelhantes aos de outros anestésicos locais e incluem:
- Reações alérgicas, que são raras devido à baixa imunogenicidade
- Tonturas ou náuseas se ocorrer absorção sistêmica significativa
- Reações locais, como edema ou hematomas no ponto de injeção
Uma complicação descrita, embora rara, é a parestesia prolongada, principalmente quando a articaína é utilizada em bloqueios do nervo alveolar inferior. No entanto, a incidência é muito baixa e estudos indicam que vantagens superam os riscos.
Comparação com outros anestésicos locais
A articaína é frequentemente comparada com a lidocaína, que é o anestésico local padrão em muitos países. Entre as principais diferenças, destacam-se:
| Característica | Articaína | Lidocaína |
|---|---|---|
| Início da ação | 1-3 minutos | 2-5 minutos |
| Duração da anestesia | 30-60 minutos | 30-60 minutos |
| Metabolismo | Metabolismo plasmático e hepático | Metabolismo hepático |
| Capacidade de difusão óssea | Alta | Baixa |
| Potência anestésica | Maior que lidocaína | Menor que articaína |
Considerações finais
A articaína é um anestésico local seguro e eficaz que revolucionou a prática odontológica, principalmente devido à sua rápida ação, alta penetração nos tecidos e menor toxicidade sistêmica. Sua utilização adequada proporciona maior conforto ao paciente e melhores resultados no tratamento.
É fundamental que o profissional esteja atento às contraindicações e ajuste as doses conforme cada caso, sempre monitorando possíveis reações adversas. O conhecimento detalhado da farmacologia da articaína, aliado à técnica correta de aplicação, faz com que ela seja uma ferramenta essencial no arsenal do dentista moderno.




