O amálgama dentário é um material restaurador amplamente utilizado na odontologia para o tratamento de cáries, principalmente em dentes posteriores. Sua história, composição, vantagens, desvantagens e os avanços tecnológicos relacionados a seu uso são aspectos fundamentais para compreender a importância e as controvérsias que envolvem esse material. Este artigo aborda detalhadamente o que é o amálgama, seus componentes, aplicações, preocupações de saúde, aspectos ambientais e alternativas disponíveis atualmente.
O que é amálgama dentário?
O amálgama dentário é um material restaurador metálico que tem como principal função restaurar a anatomia e a função dos dentes afetados pela cárie. Ele é composto por uma mistura de mercúrio metálico e uma liga de metais em pó, que inclui principalmente prata, estanho e cobre. Após a mistura, ocorre uma reação química que resulta em uma massa sólida, durável e resistente, ideal para suportar as forças de mastigação dos dentes posteriores.
História e evolução do amálgama
O uso do amálgama remonta ao século XIX, quando foi introduzido como uma alternativa aos materiais restauradores da época, que eram menos duráveis e apresentavam maior custo. Desde então, o amálgama passou por diversas modificações para melhorar suas propriedades mecânicas, estabilidade e segurança. Durante a maior parte do século XX, foi considerado o padrão ouro para restaurações dentárias em dentes posteriores devido à sua resistência e facilidade de manipulação.
Composição do amálgama
O amálgama é uma mistura de mercúrio e uma liga metálica em pó. A liga metálica geralmente contém:
- Prata (Ag): responsável pela resistência mecânica e pela durabilidade da restauração.
- Cobre (Cu): aumenta a resistência à corrosão e melhora as propriedades físicas.
- Estanho (Sn): controla o tempo de presa da mistura e ajuda na resistência.
- Zinco (Zn): presente em algumas ligas, atua como agente desoxidante.
O mercúrio é o principal componente líquido, representando cerca de 50% do volume da mistura, que reage com a liga metálica em pó formando uma massa sólida resistente.
Vantagens do amálgama
O uso do amálgama apresenta uma série de vantagens que ainda justificam sua aplicação em determinadas situações clínicas, entre elas:
- Durabilidade: o amálgama possui alta resistência ao desgaste e às forças mastigatórias, podendo durar muitos anos se bem executado.
- Facilidade de aplicação: o preparo do amálgama é relativamente simples e rápido, permitindo uma manipulação prática em consultório.
- Baixo custo: comparado a outros materiais restauradores, o amálgama é mais acessível financeiramente.
- Selamento da cavidade: durante o processo de cristalização, o amálgama pode expandir levemente, ajudando a selar as margens da restauração contra infiltração.
- Resistência à umidade: o amálgama é menos sensível à umidade durante a manipulação do que resinas compostas, facilitando o procedimento em situações que exigem maior controle do ambiente.
Desvantagens e controvérsias do amálgama
Apesar das vantagens, o amálgama apresenta algumas desvantagens e gera discussões na odontologia contemporânea, tais como:
- Estética: seu aspecto metálico escuro não imita a cor natural dos dentes, o que pode ser um problema em áreas visíveis da arcada dentária.
- Preocupações com o mercúrio: o mercúrio presente no amálgama é um elemento tóxico em altas concentrações, o que causa questionamentos sobre sua segurança para a saúde do paciente e do profissional.
- Corrosão e liberação de íons: ao longo do tempo, o amálgama pode corroer e liberar pequenas quantidades de mercúrio e outros íons metálicos, desencadeando respostas biológicas locais ou sistêmicas.
- Contração térmica: devido às diferenças na expansão térmica entre o amálgama e o dente, pode haver microinfiltrações e sensibilidade pós-operatória.
- Remoção e descarte ambiental: o descarte inadequado do amálgama pode causar contaminação ambiental pelo mercúrio, colocando em risco ecossistemas locais.
Segurança do amálgama: evidências científicas
Ao longo dos anos, dezenas de estudos foram realizados para avaliar os riscos do uso do amálgama dentário. As principais conclusões atuais indicam que:
- As quantidades de mercúrio liberadas pelas restaurações de amálgama são baixas e geralmente consideradas seguras para a maioria da população.
- Pacientes sem alergias ao mercúrio ou condições específicas (como doença renal grave) podem utilizar o amálgama sem riscos significativos.
- Órgãos reguladores, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e conselhos odontológicos nacionais, recomendam que o amálgama seja utilizado com cautela, sobretudo em grupos vulneráveis como gestantes e crianças.
- Procedimentos de manipulação adequados e técnicas de remoção cuidadosas são essenciais para minimizar a exposição durante o tratamento.
Apesar disso, o consenso científico atual apoia o uso do amálgama como uma opção clínica econômica e eficiente, enquanto incentiva a busca por alternativas menos poluentes e estéticas.
Aspectos ambientais do amálgama
O mercúrio é considerado uma das substâncias tóxicas mais preocupantes para o meio ambiente. Em odontologia, a principal preocupação está relacionada à correta coleta, armazenamento e descarte do amálgama usado e dos resíduos provenientes de consultórios.
Muitos países e organizações implementaram normas específicas para controlar o descarte do amálgama, como o uso de filtros amálgama nos sistemas de sucção dos consultórios e o recolhimento dos resíduos por empresas especializadas. Essas medidas visam evitar a contaminação da água e do solo, protegendo a fauna, a flora e a saúde humana.
Alternativas ao amálgama dentário
Nos últimos anos, a odontologia estética e materiais restauradores inovadores têm ganhado espaço, especialmente para áreas visíveis. Entre as principais alternativas ao amálgama, destacam-se:
- Resina composta: materiais estéticos que permitem restaurações em cores semelhantes ao dente, com boa durabilidade em dentes anteriores e posteriores, desde que a técnica seja rigorosa.
- Cerâmicas e porcelanas: utilizadas em restaurações indiretas, essas opções oferecem alta estética e resistência, embora com custo e complexidade maiores.
- Ionômeros de vidro: indicados para restaurações temporárias ou em situações específicas, apresentam liberação de flúor que ajuda na prevenção de novas cáries.
Entretanto, mesmo com essas opções, o amálgama ainda é uma escolha valiosa em alguns casos por sua resistência, custo e facilidade de aplicação.
Cuidados no preparo e na aplicação do amálgama
Para maximizar os benefícios e reduzir riscos associados ao amálgama, alguns cuidados devem ser observados durante o procedimento:
- Uso de equipamento de proteção individual para o profissional, incluindo luvas, máscara e óculos de proteção.
- Técnica rigorosa de manipulação para evitar exposição ao mercúrio metálico.
- Secagem adequada da cavidade para evitar contaminação por líquidos.
- Compactação adequada da massa amálgama para evitar porosidades e melhorar a resistência.
- Acabamento e polimento correto para reduzir a corrosão e aumentar o conforto do paciente.
Considerações finais
O amálgama dentário continua sendo uma opção consolidada na odontologia, principalmente em situações onde a resistência, durabilidade e custo são fatores importantes. A evolução dos materiais restauradores e as preocupações ambientais vêm impulsionando a redução do seu uso, porém o amálgama mantém seu papel relevante em tratamentos odontológicos.
Os profissionais devem estar atentos às melhores práticas para o manuseio seguro do amálgama e orientar os pacientes sobre as vantagens e limitações desse material, colaborando para decisões clínicas éticas e eficazes.
Em suma, conhecer profundamente o amálgama dentário é essencial para ampliar as possibilidades terapêuticas na odontologia e oferecer tratamentos personalizados e de qualidade.



