O adesivo odontológico é um componente fundamental nos procedimentos restauradores modernos, permitindo a união eficaz entre o material restaurador e a estrutura dental. Seu uso revolucionou a odontologia, proporcionando restaurações mais duráveis, estéticas e conservadoras. Neste artigo, abordaremos em detalhes o que são os adesivos odontológicos, suas classificações, mecanismos de ação, técnicas de aplicação, indicações, vantagens, limitações, além dos avanços recentes nessa área tão importante para a prática odontológica.
O que é o adesivo odontológico?
O adesivo odontológico é um sistema composto por substâncias químicas que promovem a adesão de materiais restauradores, como resinas compostas, à estrutura dental natural, seja esmalte ou dentina. Esses adesivos atuam criando uma interface química e mecânica entre o substrato dental e a restauração, aumentando a retenção, reduzindo microinfiltrações e prevenindo a sensibilidade dentinária pós-operatória.
Sem o uso do sistema adesivo, as restaurações teriam pouco suporte, exigindo formas cavitárias mais invasivas para manter o material de restauração por retenção mecânica. A adesão permite abordagens mais conservadoras e a preservação da estrutura dentária saudável.
Histórico e evolução dos adesivos odontológicos
Os sistemas adesivos odontológicos começaram a ser estudados intensamente na década de 1950, com o desenvolvimento da técnica de corrosão ácido-base pelo Dr. Michael Buonocore, em 1955. Essa técnica utilizava ácido fosfórico para aumentar a porosidade do esmalte, facilitando a adesão dos materiais restauradores.
Desde então, ocorreram várias gerações de sistemas adesivos, com melhorias progressivas na eficácia, praticidade e segurança. As gerações são classificadas conforme seu modo de aplicação e composição química, variando entre adesivos que requerem condicionamento coronal separado e aqueles que incorporam esse passo em uma etapa única.
Classificação dos adesivos odontológicos
Os adesivos são geralmente classificados em função do número de etapas do sistema e do tipo de preparo da superfície dental. As principais classificações são:
Adesivos convencionais (Sistema de três etapas)
Também conhecidos como adesivos de três passos ou convencionais, envolvem três etapas distintas:
- Condicionamento ácido (etching) com ácido fosfórico para remover parcialmente a camada mineral e promover microporosidade.
- Aplicação do primer, que contém monômeros hidrofílicos para penetrar na dentina e equilibrar a superfície para receber o adesivo.
- Aplicação do adesivo propriamente dito, que contém monômeros hidrofóbicos que irão polimerizar e proporcionar resistência mecânica.
Adesivos de duas etapas (Auto condicionantes em duas etapas)
Esses sistemas combinam o primer e o adesivo em uma única etapa, depois da aplicação do ácido fosfórico para condicionamento. Isso simplifica o protocolo e reduz o tempo do procedimento.
Adesivos de única etapa (Self-etch ou autocondicionantes)
Os sistemas de adesão autocondicionantes combinam o condicionamento, o primer e o adesivo em um único líquido. Eles apresentam ácido incorporado no primer, eliminando a necessidade do condicionamento com ácido fosfórico prévio.
Esses adesivos são mais rápidos e práticos, porém podem apresentar menor resistência adesiva, especialmente no esmalte, devido ao menor condicionamento ácido.
Mecanismo de ação dos adesivos odontológicos
O mecanismo de adesão baseia-se principalmente na microrretenção e na ligação química entre o material restaurador e a estrutura dental. No esmalte, o condicionamento ácido por fosfórico cria microporosidades ao remover minerais, permitindo que o adesivo penetre e polimerize formando uma interface rígida chamada de “micro-mecha” ou “microretentiva”.
Já na dentina, a adesão é mais complexa devido à sua composição orgânica e presença do chamado “filme de smear” (resíduo da instrumentação mecânica). O condicionamento ácido remove parcialmente essa camada, expondo a matriz colágena e canais tubulares dentinários. O primer promove a infiltração dos monômeros na camada de colágeno desmineralizado, formando uma estrutura chamada “complexo híbrido”, que é fundamental para a adesão durável.
Técnicas de aplicação
A correta aplicação do adesivo odontológico é crucial para o sucesso clínico da restauração. As principais etapas gerais envolvem:
1. Preparo da superfície
Dependendo do sistema adesivo utilizado, pode haver a necessidade de condicionamento com ácido fosfórico (etch-and-rinse) ou não (self-etch). É importante controlar o tempo e a concentração do ácido para evitar agressão excessiva ao dente.
2. Aplicação do primer e/ou adesivo
O primer deve ser bem homogeneizado e aplicado com pincel ou microbrush, garantindo penetração efetiva na dentina. Em adesivos em etapas únicas, essa aplicação ocorre de forma simplificada.
3. Secagem
A secagem controla a presença de solventes como álcool ou água, sem desidratar excessivamente a dentina, que poderia colapsar a matriz colágena, dificultando a adesão.
4. Fotopolimerização
Após a aplicação do adesivo, é feita a polimerização com luz, transformando os monômeros líquidos em uma camada rígida e estável.
Indicações do adesivo odontológico
O sistema adesivo é indicado para:
- Restaurações diretas com resinas compostas e resinas fluídas.
- Reparo de restaurações antigas.
- Adesão de resinas em tratamentos estéticos como facetas indiretas e colagens de fragmentos dentários.
- Fixação de aparelhos ortodônticos e restaurações indiretas (cimentação adesiva).
- Tratamento de dentes com hipersensibilidade dentinária.
Vantagens dos adesivos odontológicos
Os sistemas adesivos apresentam inúmeras vantagens na odontologia restauradora, destacando-se:
- Conservação da estrutura dental: a adesão permite preparos mais conservadores, minimizando a remoção de tecido dental saudável.
- Estética aprimorada: a interface adesiva reduz a margem visível entre o dente e a restauração.
- Selamento eficiente: diminui infiltrações, que podem causar sensibilidade ou cáries secundárias.
- Facilidade e rapidez: especialmente com sistemas autocondicionantes, que simplificam o protocolo clínico.
- Versatilidade: aplicável em diferentes procedimentos restauradores e adesivos.
Limitações e desafios
Apesar dos avanços, os adesivos odontológicos apresentam algumas limitações:
- Sensibilidade ao manejo clínico: a umidade dentinária e a técnica correta são cruciais para o sucesso da adesão.
- Degradação ao longo do tempo: a interface adesiva pode sofrer degradação enzimática e hidrolítica, reduzindo a durabilidade da restauração.
- Menor adesão ao esmalte com sistemas self-etch: podendo exigir condicionamento adicional para garantir efetividade.
- Fragilidade da camada adesiva: espessuras muito finas podem tornar a interface menos resistente.
Avanços e perspectivas futuras
A pesquisa em adesivos odontológicos segue em constante desenvolvimento. Algumas tendências importantes incluem:
Nanotecnologia
Incorporação de nanopartículas para aumentar a resistência mecânica e diminuir a degradação da camada adesiva.
Adesivos bioativos
Desenvolvimento de adesivos que liberam íons remineralizantes, promovendo reparo da interface dentária.
Simplificação dos protocolos
Sistemas cada vez mais rápidos e práticos, com sistemas universais aplicáveis em múltiplos substratos e técnicas.
Tecnologia hidrofóbica
Formulações que minimizam a absorção de água, reduzindo a degradação e aumentando a longevidade das restaurações.
Considerações finais
O adesivo odontológico é uma inovação imprescindível na odontologia atual, permitindo restaurações mais eficazes, duráveis e estéticas. A escolha correta do sistema adesivo, aliada a um protocolo clínico rigoroso, é determinante para o sucesso restaurador. A compreensão das propriedades químicas, mecanismos de ação e limitações desses materiais possibilita ao profissional odontólogo oferecer tratamentos de maior qualidade e satisfação para seus pacientes.
Com os avanços tecnológicos e pesquisas contínuas, os sistemas adesivos tendem a evoluir ainda mais, promovendo procedimentos restauradores que respeitam e preservam a estrutura dental, ao mesmo tempo em que melhoram a durabilidade e a função da restauração.

